É, de forma simplificada, uma doença caracterizada pela presença de células do endométrio uterino fora do útero. Porém, para as milhões de mulheres afetadas pela endometriose, não há nada de simples na avaliação e no manejo dessa doença dolorosa, crônica e inflamatória.
Por um lado é uma das condições mais comuns que necessitam de cirurgia em mulheres de idade fértil, e por outro seu diagnóstico continua sendo atrasado, dificultando às pacientes procurar cuidado em tempo adequado – com um atraso no diagnóstico desde o início dos sintomas entre 7 a 12 anos em média. Esse atraso leva a dano físico e emocional, impacta gravemente na qualidade de vida, e é acompanhada de uma pior relação com a equipe de saúde.
É frequentemente associada a dor pélvica desabilitante, infertilidade intratável, e alterações nos hábitos intestinais próximo às menstruações. A gravidade dos sintomas é variável e pode não ter relação com a extensão de doença encontrada na cirurgia (lesões pequenas podem causar dor grave e infertilidade, enquanto lesões maiores podem ser assintomáticas e encontradas acidentalmente).
Videolaparoscopia é o padrão-ouro para diagnóstico, permitindo também o tratamento da doença. Frequentemente há acometimento intestinal, necessitando de se ter uma equipe especializada não só com ginecologistas, mas também coloproctologistas.
Vários estudos estimam que até 15% de todas as mulheres em idade reprodutiva são afetadas com a doença, representando um estimado de 200 milhões de mulheres pelo mundo.
Qual a causa da Endometriose Intestinal?
A causa precisa que explica completamente é desconhecida. A teoria mais aceita é que há menstruação retrógrada pelas trompas uterinas na cavidade abdominal. Há células viáveis do endométrio no fluxo menstrual, permitindo assim implante delas no peritôneo (camada que recobre a cavidade abdominal).
Mulheres com parentes com endometriose têm um risco aumentado de 7% de desenvolver a doença, além de ter sintomas mais graves, sugerindo um fator genético envolvido.
Quais os fatores de risco?
Houve uma diminuição na incidência da doença em mulheres que usam contraceptivos orais ou tem várias gestações. Também, a incidência aumenta quanto maior o tempo desde a última gestação. Por isso, sugere-se que ciclos menstruais ininterruptos predispõem ao desenvolvimento de implantes de endometriose.
Mulheres japonesas têm o dobro da incidência do que as caucasianas.
Quais os sintomas?
A maioria das pacientes relata dor pélvica, massa pélvica e infertilidade. A dor pélvica pode ser relacionada às evacuações ou nas relações sexuais (especialmente com penetração).
Devem ser avaliadas para endometriose mulheres com dor que tenham ciclos menstruais anormais, histórico familiar de endometriose ou defeitos congênitos ou traumáticos do trato reprodutivo. Endometriose intestinal pode causar dor na defecação e sensação de preenchimento retal, enquanto a endometriose na bexiga pode causar dor durante ao urinar e sangramento cíclico na urina. Quando acomete o ureter, pode levar a obstrução e disfunção do rim daquele lado.
Outros locais menos comuns são lesões nos pulmões, no diafragma, ou em feridas operatórias, principalmente após cesáreas, onde podem causar dor e inchaço durante os ciclos menstruais.
Apesar de ser uma doença dos anos reprodutivos, com o uso crescente de reposição hormonal em mulheres pós-menopausa, os sintomas podem retornar naquelas que tiveram a doença quando mais jovens.
Infertilidade é a queixa mais comum nas mulheres com endometriose, estimando-se que até 30% sejam inférteis. Acontece devido a vários fatores, como aderências causadas pelos implantes ou até mesmo alterações hormonais e imunológicas. Acompanhamento com especialista em infertilidade ajuda na avaliação diagnóstica.
Como se faz o diagnóstico?
O primeiro exame deve ser o exame ginecológico, onde pode-se notar a presença de nódulo irregular ou doloroso, trazendo a suspeita à tona.
O ultrassom transvaginal com preparo intestinal costuma ser o principal exame complementar, podendo demonstrar massas ou espessamentos pélvicos. A ressonância da pelve também é um exame preciso para ajudar a definir as lesões.
O melhor método diagnóstico é a laparoscopia, procedimento cirúrgico por onde é inserida uma câmera óptica na cavidade abdominal após a insuflação de CO2 que a distende, permitindo assim a visualização dos órgãos e das lesões presentes e também o seu tratamento definitivo – a ressecção das lesões.
Tratamentos para Endometriose Intestinal
Tratamento clínico
Envolve o controle da dor e interromper o crescimento das lesões. Anti-inflamatórios, anticoncepcionais e tratamentos hormonais podem ser utilizados. Podem ser administrados via oral, injeção ou por dispositivos implantáveis.
Tratamento cirúrgico
Cirurgia na maioria dos casos é para diagnóstico e tratamento. A via preferida atualmente é a videolaparoscopia, mas com um aumento no número de casos sendo realizados por cirurgia robótica.
No procedimento é realizada uma avaliação de toda a cavidade abdominal em busca de implantes de endometriose. O tratamento cirúrgico vai depender da localização e do tamanho do tecido endometrial. Para a melhor resposta, todas as lesões devem ser ressecadas, de preferência na primeira cirurgia.
As lesões intestinais podem ser ressecadas de várias formas. Quando menores e mais superficiais, utiliza-se a técnica de “shaving” – quando se resseca a lesão sem abrir a alça intestinal. Lesões até 3 cm podem ser ressecadas com a técnica de ressecção discoide – onde se utiliza um grampeador para excisar a lesão inteira. Já lesões maiores podem precisar da ressecção segmentar – onde é ressecado um segmento da alça intestinal e feita uma reconstrução do trânsito intestinal no mesmo momento. Via de regra, opta-se pela técnica menos invasiva que consiga tratar toda a doença, para diminuir o risco de complicações.