Os divertículos são pequenas “bolsas” que se formam na parede do cólon. A diverticulite é quando algum desses divertículos inflama, normalmente devido a obstrução com fezes.
Qual a causa da Doença Diverticular?
A alteração anatômica da doença não é muito bem entendida. Múltiplas evidências sugerem que essa alteração se deva a uma combinação entre dieta, microbiota intestinal, estilo de vida e genética. Pessoas com histórico familiar da doença costumam ter mais recidiva da diverticulite. Estima-se que a herança genética contribua em 40-50% no risco para desenvolver essa doença.
Quais os fatores de risco?
Dieta
Alimentação rica em carne vermelha e gorduras, alimentos processados com grãos refinados. Essa associação também é verdade para a diverticulite, uma complicação da doença. Pessoas que predominantemente comem carne chegam a ter até 50 vezes mais doença diverticular quando comparados a vegetarianos.
Sexo e idade
A tendência é que surja na meia-idade, chegando a 80% das pessoas com divertículos aos 80 anos. Diverticulite é mais comum em homens.
Tabagismo
Tabagistas têm incidência muito maior, além de 3 vezes mais chance de desenvolver complicações da doença.
Uso de Anti-inflamatórios
O uso de medicações anti-inflamatórias não esteroidais têm risco aumentado de várias complicações no trato gastrointestinal, e com essa patologia não é diferente. Há uma chance maior de desenvolver a enfermidade, além de 4 vezes mais chance de ter diverticulite perfurada quando comparado a pessoas que não usam essas medicações regularmente.
Obesidade
Quanto maior o IMC (índice de massa corpórea), maior a chance de ter a doença mesmo em pessoas jovens, além de risco aumentado de suas complicações.
Como prevenir?
Dieta
Uma dieta rica em fibras pode prevenir a doença diverticular, especialmente daquelas fibras encontradas nas frutas. É a principal mudança que beneficia na prevenção da doença.
Atividade física
Vários estudos comprovaram a capacidade da atividade física de prevenir, e esse benefício é maior ainda quando se fala em atividade física intensa.
Quais os sintomas da Doença Diverticular?
O achado de divertículos na colonoscopia não é algo raro. A simples presença deles não costuma causar nenhuma consequência. Alguns pacientes podem relatar dor no quadrante inferior esquerdo do abdômen, em cólicas, por vezes acompanhadas de distensão abdominal e mal-estar ou náuseas. Outros podem ter complicações da doença, que são a diverticulite e a hemorragia digestiva.
Diverticulite é quando ocorre a inflamação do divertículo. Pode causar dor no quadrante inferior esquerdo do abdômen, distensão abdominal, náuseas, vômitos, e até mesmo febre. É um quadro com potencial de evoluir até para perfuração intestinal e infecções graves, necessitando de avaliação em um serviço de emergência.
Já a hemorragia digestiva ocorre devido a sangramento do vaso próximo ao divertículo. Pode ser um quadro leve, com presença de sangue vermelho vivo ou escurecido nas fezes mas sem nenhuma repercussão, a quadros moderados com anemia e necessidade de receber soro fisiológico endovenoso e acompanhar com exames a anemia, ou mesmo quadros graves com necessidade de transfusão sanguínea ou até mesmo cirurgia de emergência. Logo, também é um quadro que necessita de avaliação em um pronto-socorro.
Como se faz o diagnóstico?
O principal exame para o diagnóstico é a colonoscopia. É um exame endoscópico onde pode-se visualizar por dentro o reto, o cólon e o final do intestino delgado. Nele é possível enxergar o interior dos divertículos, fechando o diagnóstico.
É importante lembrar que para pessoas que tiveram um quadro provável de diverticulite recente, é necessário aguardar 2 meses do quadro para realizar o exame, pois antes de ocorrer a cicatrização há chance maior de perfuração intestinal. Em exames de imagem, principalmente a tomografia de abdome, é possível visualizar os divertículos, inclusive sendo o principal exame quando há diverticulite.
Como tratar a Doença Diverticular
Alimentação
Antigamente dizia-se que quem tinha divertículos não poderia comer grãos e sementes para não ter diverticulite, o que hoje sabemos que não é verdade. Grandes estudos comprovaram que na verdade quem come mais fibras (incluindo grãos e sementes) tem menor probabilidade de desenvolver doença diverticular e diverticulite, logo o recomendo é sim a ingestão maior de fibras na dieta.
Diverticulite
Quando há inflamação ou diverticulite, o primeiro passo é a avaliação da gravidade desse quadro, tanto com sinais e sintomas clínicos quanto com exames de sangue e tomografia.
Quadros mais leves, sem abscessos, podem ser tratados apenas com medicações sintomáticas como analgésica e remédios para náuseas. Quadros com sinais de abscesso devem receber antibióticos, por vezes com internação hospitalar. Abscessos maiores podem necessitar de punção guiado por tomografia ou lavagem do abdome por videolaparoscopia. E quadros mais graves com sinais de sepse (infecções mais graves), podem necessitar de cirurgia de emergência com internação de UTI ou mesmo levar a risco de vida. Quadro de cirurgia de emergência normalmente resultam em cirurgia com colostomia, onde é colocada uma alça de intestino para ser desviada para a parede abdominal, onde se acopla uma bolsa, permitindo assim a recuperação do organismo e das alças intestinais à agressão que é a diverticulite.
Podem ser indicadas cirurgias eletivas após a resolução do quadro de diverticulite para a ressecção do intestino com a doença, especialmente após quadros de diverticulite com abscesso que se resolveu após tratamentos clínicos.
Doença diverticular sintomática
Outra situação é a doença diverticular sintomática. Acontece quando as pessoas com doença diverticular têm dores no quadrante inferior esquerdo do abdome mas que não tem diverticulite. Podem ter também distensão abdominal, mal-estar, náuseas durante as crises. Nesses casos pode ser tentado um tratamento clínico com medicações sintomáticas e por vezes com a Mesalazina. Esta medicação tem um efeito anti-inflamatório no trato gastrointestinal, especialmente no cólon (intestino grosso). Normalmente é realizado um tratamento com comprimidos diários por 1 semana do mês, não tomando nas outras semanas, podendo haver uma melhora dos sintomas. É um quadro difícil de se diferenciar da Síndrome do Intestino Irritável, devido a terem sintomas muito semelhantes. Quando não há melhora com medicação, ou mesmo como tratamento inicial, pode-se realizar a cirurgia eletiva para doença diverticular. Nessa cirurgia é retirado o lado mais acometido por divertículos, classicamente o lado esquerdo do cólon.
Técnicas minimamente invasivas
Atualmente temos as cirurgias minimamente invasivas que melhoraram muito a recuperação dos pacientes no pós-operatório, com menores incisões, menos dor, mais rápido retorno às atividades diárias, alta mais precoce e menos complicações de feridas operatórias como infecção ou hérnias.
Mais recentemente está sendo possível realizar esse tipo de cirurgia também através de plataformas robóticas. Essas permitem que o cirurgião controle todas as pinças dentro da cavidade abdominal, as quais têm articulações que permitem um movimento mais amplo do que as das pinças da videolaparoscopia. Conta com uma câmera com óptica em 3D, com melhor visualização dos tecidos. Permite movimentos mais delicados e precisos.