O Cisto Pilonidal é uma doença crônica, infecciosa, tipicamente da linha média da região sacro-coccígea. Pode se apresentar de modo leve e assintomático até infecção ativa com abscesso. Pode causar impacto significativo na qualidade de vida e ter um difícil tratamento, com vários cuidados a serem tomados.
Quais os fatores de risco?
Afeta na mesma frequência homens e mulheres, e já foi chamada de “doença do jipe” devido a alta incidência na segunda guerra mundial entre motoristas de jipe, devido aos longos períodos sentados. Outros fatores de risco incluem obesidade, pessoas com muitos pêlos, má higiene, sudorese excessiva, anatomia profunda da região sacral, e histórico familiar.
Qual a causa do Cisto Pilonidal?
Sua causa permanece desconhecida, apesar de haverem várias teorias. Enquanto a causa verdadeira pode nunca chegar a ser explicada, a principal discussão se dá se é uma doença congênita ou adquirida. Atualmente, a principal hipótese é que seja uma condição adquirida ocorrendo nessa anatomia, onde ocorre muito calor, atrito repetitivo e umidade. A explicação é que esse ambiente, combinado com um trauma local à pele e aos folículos pilosos resultaria em uma inflamação tipo “corpo estranho”, levando à formação dos trajetos do cisto ou infecção ativa.
Quais os sintomas?
Pacientes com esse problema podem ter uma variedade grande de sintomas. Aqueles assintomáticos podem nem ter percebido a presença do cisto. Normalmente descobrem que têm a doença quando desenvolvem infecção ativa, tipicamente causando dor, inchaço, vermelhidão na região sacral, indicando um abscesso. Este precisa passar por uma drenagem, o que pode ocorrer espontaneamente ou com uma incisão sob anestesia local, com saída de pus.
Pode ocorrer sangramento próximo ao ânus, podendo até confundir com doença hemorroidária, mas sem relação com as evacuações, sendo espontâneo.
Cisto Pilonidal é grave?
Normalmente causam dor e desconforto, além da saída de secreção. Podem evoluir para abscessos, os quais carregam em si o risco de espalhar-se para os tecidos vizinhos, podendo tornar-se infecções mais graves, principalmente quando não drenados.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico em si é bem direto, bastando o exame físico da região sacrococcígea.
O exame físico revelará um ou mais orifícios na linha média, quase sempre contaminados com debris e pêlos. Podem haver tufos de pêlos saindo dos orifícios e com saída de secreção, os quais podem ser removidos com uma pinça, porém pode haver pequeno sangramento.
Como tratar o Cisto Pilonidal?
Alinhando expectativas
No cuidado da doença pilonidal, é importante estabelecer uma base de expectativas para o curso do seu tratamento. À apresentação inicial, a maior parte dos pacientes podem ser manejados de forma não operatória, e é importante para os pacientes entender o potencial de ter sintomas recorrentes e que podem necessitar de intervenção futura.
Adicionalmente, as taxas de complicações pós-operatórias são relativamente altas independentemente de qual técnica operatória é escolhida. É importante que o paciente entenda o potencial dessas complicações, basicamente sendo as infecções de feridas e complicações de feridas crônicas, necessitando de trocas de curativos e cicatrização lenta. Ainda, enquanto existem várias opções cirúrgicas, o melhor tratamento permanece controverso.
Tratamento não cirúrgico
Em pacientes com doença assintomática, nenhum tratamento invasivo é necessário. Mudança de fatores de risco pode ser feita, como melhorar a higiene, perda de peso, depilação (com lâmina, cera, cremes ou laser) e evitar longos períodos sentado. Lavar a região com uma escova pode ajudar a prevenir os pêlos de ficarem presos dentro dos orifícios. Pacientes com pêlos de cor clara podem não se beneficiar muito da depilação a laser, que tipicamente funciona melhor em pessoas de pele clara e pêlos escuros. Mas o laser tem estudos com poucas evidências de seus benefícios.
Mesmo em pacientes operados, a remoção dos pêlos ajuda a diminuir a recorrência da doença.
Cirurgia convencional
A técnica convencional é basicamente uma incisão acima dos trajetos do cisto pilonidal e deixar a ferida aberta para cicatrização por segunda intenção (de dentro para fora).
Pode ser ressecada a pele das bordas da ferida, para ampliar a abertura na pele e prevenir que haja a cicatrização primeiro da pele do que dos tecidos mais profundos. Dessa maneira previne-se a recidiva da doença. É realizada uma limpeza de todos os tecidos de dentro do cisto, como a remoção dos pêlos. Pode ser feita uma sutura nas bordas para aproximar, sem fechá-la. É mantido curativo com gaze e pomada após o procedimento, até a cicatrização completa. É normal a saída de secreção enquanto não houver completamente cicatrizado, necessitando de mais cuidados com a ferida, por vezes com trocas 2 vezes ao dia, frequentemente necessitando da ajuda de algum acompanhante. Por vezes, pode surgir um tecido dentro da ferida que não permite seu fechamento, necessitando uma nova curetagem (limpeza) no consultório, ou mesmo em centro cirúrgico.
Taxas de sucesso para a cirurgia inicial variam em torno de 90% quando a ferida é deixada aberta.
Fechamento primário
Uma possível alternativa à cirurgia convencional é quando é feito o fechamento primário da ferida. A incisão inicial feita é mais ampla e mais profunda, ressecando todo o conteúdo do cisto. Após, são feitos pontos internos e na pele, ficando completamente fechada. Tem uma recuperação mais rápida, mas se há infecção de ferida pode ser necessário abrir os pontos.
Retalhos de pele
Existem várias alternativas de retalhos de pele para o fechamento da ferida, cada um com suas vantagens e desvantagens. Geralmente são utilizados quando se opta pelo fechamento mas quando o fechamento primário não é possível sem tensão nos pontos, já que a tensão aumenta o risco de abrir os pontos. Tem como desvantagem um resultado estético desfavorável, além de também ter chances de infecção de ferida.
Tratamento Endoscópico do Cisto Pilonidal (EPSiT)
Nesse procedimento, uma óptica de 4mm de diâmetro é inserida pelos orifícios externos da cavidade pilonidal após dilatação. A câmera permite a identificação da cavidade e de todos os trajetos interligando os orifícios, utilizando um meio líquido (glicina), permitindo a retirada dos pêlos, a cauterização de todo o trajeto e a limpeza deles com uma escova específica.
Tem demonstrado altas taxas de cicatrização e satisfação dos pacientes. A taxa de eficácia varia em torno de 77%, mas mesmo quando há recidiva, tendem a ser menores que a doença inicial. A grande vantagem é que é realizado por pequenas incisões, com uma recuperação muito mais rápida e fácil, permitindo o retorno às atividades do dia-a-dia de forma mais tranquila.
Laser de diodo
O laser de diodo tem sido utilizado em diversos outros tratamentos como fístula anal e também pode ser utilizado para esse tratamento. Esse procedimento se baseia na cauterização das paredes do cisto, estimulando tecido de cicatrização. Pode ser feito em centro cirúrgico, com anestesista, ou mesmo ambulatorialmente com anestesia local. Também tem uma recuperação mais rápida e retorno abreviado às atividades da rotina, como trabalho e estudos. Tem melhores resultados em doenças pilonidais mais simples ou menores. Taxas de sucesso variam entre 85-90%.