Fístula Anal

Fístula anal – ou fístula perianal – é um trajeto (um “túnel”) que se forma entre o ânus e a pele ao redor dele. Devido a essa comunicação, há a passagem de secreção contaminada de dentro do reto ou canal anal para a pele, normalmente percebida como uma “bolinha” ao redor do ânus que incha e por onde vaza secreção tipo pus, que pode sujar a roupa.

Qual a causa da Fístula Anal?

A causa mais comum para as fístulas simples é a infecção de glândulas anais, a chamada criptite. Isso ocorre devido à obstrução de uma delas com algum resíduo / fezes, levando ao acúmulo de secreção no seu interior. Como é um local muito contaminado, logo se forma um abscesso. 

Este acaba por encontrar um caminho para extravasar, normalmente na pele ao redor do anus (onde ele drena) espontaneamente ou após uma incisão cirúrgica. Em cerca de ⅓ dos casos esse trajeto permanece, formando assim a fístula anal.

Quais os sintomas da Fístula Anal?

Muitas vezes é possível identificar o histórico de um abscesso no início do quadro. Permanece no orifício de drenagem um tecido inflamado, com episódios de dor local e inchaço, com melhora após a drenagem de pus ou fezes. Pode estar presente também sangramento, irritação e coceira.

Qual a sua gravidade?

Quando há obstrução do trajeto da fístula pode se formar um novo abscesso, o qual comumente acaba por drenar espontaneamente. Quando isso não ocorre, permanecem os riscos dos abscessos, como acometimento de tecidos vizinhos com infecções e necrose graves. Há também a rara possibilidade de um orifício de uma fístula de longa duração evoluir para um câncer perianal.

Como tratar Fístula Anal?

O tratamento das fístulas anais é essencialmente cirúrgico. 

Quando ocorrem os episódios de inflamação, pode-se realizar banhos de assento com água morna por 10 a 15 minutos até 3 vezes ao dia, para facilitar a drenagem da secreção. Caso não ocorra, será necessária uma nova drenagem cirúrgica.

Fora dos quadros de abscesso, para resolver definitivamente a doença, é necessária cirurgia.

Existem várias técnicas relatadas, que vão levar algumas características em consideração para sua escolha. 

A fístula anal pode ser superficial ou mais profunda, acometendo ou não a musculatura do esfíncter anal, ou mesmo fístulas mais altas acometendo todo o canal anal. Por isso sempre há a preocupação com a continência do paciente, ou seja, a capacidade de segurar as fezes. 

Fistulotomia

Para fístulas mais superficiais e com pacientes com musculatura forte (ex.: homens, jovens), a cirurgia de fistulotomia pode ser adequada.

Sendo a técnica mais convencional, é realizado um corte que abre o trajeto da fístula, permitindo assim a curetagem ou “limpeza” dos tecidos de seu interior, e a cicatrização por segunda intenção (“de dentro para fora”).

Fistulotomia com sedenho

Para fístulas que acometem uma quantidade um pouco maior de músculo, pode ser posicionado um sedenho (ou seton) cortante. Nessa técnica se coloca um fio cirúrgico por dentro do trajeto da fístula, causando uma reação inflamatória do organismo tipo corpo estranho, o qual começa e expulsar este fio. 

Tem um efeito semelhante ao corte da fistulotomia, porém mais lento, permitindo a cicatrização aos poucos da ferida. Em alguns casos o fio é completamente expulso, mas pode ser necessária uma segunda cirurgia quando isso não acontece, para sua retirada.

Cirurgias poupadoras de esfíncter

Atualmente temos técnicas poupadoras de esfíncter, que não cortam o tecido muscular. Como vantagem elas têm menores taxas de incontinência, mas também têm maiores taxas de recidiva da doença. São elas:

Ligadura do Trato Fistuloso Interesfinctérico (LIFT)

É um procedimento no qual é dissecado o trajeto fistuloso, isolando-o de outros tecidos, permitindo assim que seja dividido próximo ao ânus, tendo as duas extremidades suturadas com fio cirúrgico. 

Tem taxas de eficácia de cerca de 70%, e mesmo quando recidiva, costuma recidivar mais próximo ao ânus, tornando um segundo procedimento mais simples, quando necessário.

Retalho de Avanço Endorretal

Nesta técnica é ressecado e suturado o orifício interno da fístula anal, deixando uma ferida no canal anal. Após, é realizado um retalho da mucosa retal para fechar a entrada da fístula, utilizando tecido vizinho saudável. 

Normalmente se resseca o orifício externo para manter a ferida drenando pela pele, até sua completa cicatrização. Tem taxas de eficácia em cerca de 60-70%. Nela não é realizado corte do esfíncter, mas o tecido utilizado no retalho pode conter parte da musculatura, trazendo também um risco menor de incontinência fecal.

 

Fechamento a Laser de Fístula Anal (FiLaC)

Este método utiliza um probe que emite laser de maneira radial para os tecidos. O probe é inserido dentro do trajeto da fístula e é retirado enquanto a energia é emitida, causando uma queimadura controlada dos tecidos inflamados do seu interior, estimulando assim seu fechamento. 

Tem taxa de eficácia em torno de 50-60%, mas pode ser associada com outras técnicas como o Retalho de Avanço ou mesmo com sutura do orifício interno. 

 

Tratamento Vídeo-Assistido de Fístula Anal (VAAFT)

Através de uma câmera com fibra óptica, é visualizado todo o interior do trajeto da fístula, permitindo seu debridamento (“limpeza”) e cauterização de todas as suas paredes. Em seguida é realizado o fechamento do orifício interno, de maneira grampeada, com sutura ou com o Retalho de Avanço. 

Pode ainda ser associada ao uso de Laser como fonte de energia. É um tratamento com o mesmo princípio do Laser, mas com a vantagem da visualização direta dos tecidos. Tem taxas de eficácia de cerca de 75%, mas com o limitante de ser um aparelho semi-rígido, não sendo eficaz em fístulas com trajeto curvilíneo.

 

Dr. Arthur Garcia Coloproctologista - logo

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